A Exploração do Trabalhador
Um dia desses pela manhã o presente autor, conversando com a servente de certa empresa, chegou a uma conclusão que parece óbvia, mas que não é assim tão óbvia. A conclusão de que todo o trabalhador é explorado.

Antigamente mais freqüente nos discursos políticos, nas dissertações e teses da academia, e, consequentemente, na mídia, a temática da exploração do trabalhador foi, gradativamente, substituída pela das maravilhas que é o estar empregado. O enorme “exército de reserva” mencionado por Marx parece ter finalmente oprimido definitivamente a “força empregada”.


Por outras palavras, ocorre que muitas das barbáries que aconteciam no mundo do trabalho, não findaram e insistem em permanecer. A diferença é que, em virtude de melhores equipamentos, locais de trabalho – os shopping centers são exemplo disso –, técnicas e tecnologias a exploração é mascarada e fantasiosamente anestesiada. O anestésico é o privilégio de estar inserido no mercado e a vantagem de poder contar com um ótimo ambiente de trabalho climatizado e um chefe benevolente (e mesmo isso nem sempre é verdade).


Isso remete a discussão à questão da desigualdade, da distribuição de renda, e, em última instância, à problemática de todo um sistema, o sistema capitalista.


Obviamente não se pretende esgotar esses assuntos nessa breve publicação, porém, rapidamente, passemos a algumas considerações: Segundo Peet (1975) a desigualdade social é inerente ao sistema capitalista. O geógrafo da Clark University escreve isso com base em Marx, filósofo que, por sua vez, tinha uma visão bastante objetiva quanto ao referido sistema, dizendo que qualquer mudança que fosse não seria possível sem antes alterar as bases do próprio sistema. Na mesma linha, outro geógrafo, agora brasileiro, dizia que o capitalismo e todas as suas manifestações, tais como a Globalização, são fábulas; alegorias em virtude de serem mentiras, coisas que não existem de fato, ou ainda, figuras de linguagem que pregam algo fictício (SANTOS, 2000). É o velho fatiamento do bolo. O sistema diz que você pode ter o tamanho de fatia que quiser, porém, como se verá adiante, em nível de Brasil, 63% do total da torta pertence a alguns poucos (20% da população), o que sobra deve literalmente ser disputado pelos outros 80% da população. Emerge a pergunta: “como se pode ter uma fatia grande de uma guloseima se uma fração muito pequena desta (37%) é reivindicada pela grande maioria?”.

Isso encaminha à questão da distribuição da renda; à reflexão acerca de como se dá a distribuição do capital gerado pelo sistema. Como dito acima, em nível nacional, essa distribuição se mostra muito desigual, confronte-se com a tabela abaixo:


:::clique aqui para visualizar a tabela:::


Alguns poderiam dizer que a renda per capta brasileira não é assim tão baixa (2850 dólares anuais), porém:



Na realidade, a renda per capta é apenas uma média aritmética, uma abstração que não existe de fato. É a mesma coisa que dizermos: ‘cada Brasileiro come, em média, dez frangos por ano’. Ora, sabemos muito bem que existem brasileiros que comem bem mais de dez frangos por ano e outros que não como nenhum. (VESENTINI e VLACK, 2004, p. 45).


Para se comparar, ainda, os dados aqui apresentados e o Brasil com outros países é interessante observar a tabela abaixo:


:::clique aqui para visualizar a tabela:::


Nota-se, pois, que as desigualdades sociais são ainda muito gritantes em países como o Brasil, e, para se manter esta dinâmica o sistema dispõe e utiliza de muitos expedientes. Um deles é, certamente, o da exploração. Esquecida mas ainda existente nas empresas, a exploração é o aproveitamento máximo da força de trabalho. É, segundo Peet (1975), a compra não só da força trabalhadora, mas, também, a chantagem que exige a criatividade, a desenvoltura e toda a sorte de atitudes e motivações que possam aumentar os lucros do grupo dos 20% mais ricos. Hoje, reafirmando o que foi dito no iníncio, tudo isso é feito de forma maquiada, oferece-se um ambiente de trabalho mais confortável (embora nem sempre), oferta-se um status que deve ser alcançado – que acaba sendo, e realmente é, o anestésico que impede que o trabalhador se conscientize do abuso – e que é constantemente propagandeado pela mídia, novelas, etc. tornando-se o objetivo de toda a massa empregada que acaba, assim, por acreditar e dormitar frente a fábula do capitalismo.


REFERÊNCIAS:


PEET, Richard. Desigualdade e Pobreza: uma teoria Geográfico-Marxista. Disponível em: <http://ivairr.sites.uol.com.br/marx.htm>. Acesso em: 10 jan. 2008.


SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000.


VESENTINI, José William, VLACH, Vânia. Geografia Crítica: Geografia do Mundo Subdesenvolvido. Vol. 3. São Paulo: Ática, 2004.

posted by Donarte N. dos Santos Jr. @ quinta-feira, janeiro 10, 2008  
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    Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
    Formação:
    - É Licenciado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
    - É Especialista no Ensino de Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
    - É Mestre em Educação em Ciências e Matemática (PUCRS).
    - É Mestrando em Filosofia (PUCRS).
    Atuação Profissional:
    - Foi Técnico em Geoproce ssamento do L/li/liaboratório de Tratamento de Imagem e Geoprocessamento (LTIG) da PUCRS.
    - É Professor da Prefeitura Municipal de Porto ALegre.
    Título da primeira dissertação de mestrado:
    “Geografia do espaço percebido: uma educação subjetiva”, que alcançou grau máximo obtendo nota 10,0.

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