É comum ouvirmos ou lermos a frase "ser professor é vocação"! Para alguns interlocutores, isso é assim, é vocação, tranquilo é ouvir ou ler isso... Há pleno acordo. Entretanto, outros redarguiriam que não, "sem essa" de que professor é vocação. Professor é profissão! Como qualquer outra, e tem de ser respeitada. Os primeiros, que concordam com a afirmação, não veem problema em concordar porque vocação é vista em seu sentido mais clássico, de chamado, relacionado ao divino. Não é, pois, problema... Os segundos, que não concordam, veem vocação no sentido carola do termo, ou seja, que, se é um chamado, que é divino, pode, portanto, ser feita gratuitamente, e, como ninguém é bobo, repetem: a profissão do professor deve ser respeitada como tal, pois é repleta de instruções próprias e específicas. Controvérsias à parte, se o ser professor é vocação, chamado, profissão ou trabalho, resta uma questão: o professor é aquele que lida com o conhecimento, com o saber, com a intelectualidade. Nesse sentido, para a grandessíssima maioria, resta o seguinte: lidar com o saber, com a ciência, com o conhecimento é para poucos. Alguém poderia dizer ainda que toda e qualquer profissão tem isso, a coisa de lidar com o conhecimento. Sim! É verdade! Toda e qualquer profissão tem isso de lidar com saberes específicos e relacionados com a sua ciência própria. Entretanto, nenhuma profissão lida com o conhecimento da forma como o professor lida, por uma razão muito simples: o professor está preocupado com o conhecimento e a forma como o aluno está compreedendo tudo isso. O professor se preocupa com a formação de uma outra pessoa. O professor se preocupa com a contrução, entendimento e episteme do conhecimento na pessoa do estudante! Deste modo, a questão da "vida intelectual", como escreveu o filósofo, teólogo e monge dominicano francês, Antonin-Dalmace Sertillanges (1863-1948), em seu livro "A Vida Intelectual", é privilegiada:
"Falar de vocação equivale a designar os que pretendem fazer do trabalho intelectual a sua vida, ou porque dispõem de vagar para se entregarem ao estudo, ou porque, no meio de ocupações profissionais, reservam para si, como feliz suplemento e recompensa, o profundo desenvolvimento do espírito." (SERTILLANGES, Antonin-Gilbert. "A Vida Intelectual". Internet Archive: São Francisco, 2013, p. 6. Fonte: Disponível em: <https://x.gd/2dMp4>. Acesso em: 28 de ago., 2024).
Diante disso, o professor pode muito bem, independentemente de qualquer questão mais ou menos político-ideológica, dar ênfase à questão intelectual, seja o seu fazer um fazer vocacional e/ ou profissional. O professor até mesmo deve entregar-se ao estudo, à vida intelectual. Assim, independentemente, também, de qualquer questão que se possa ser trazida à baila com relação ao ser professor, a vida intelectual emerge como um feliz suplemento e recompensa, e mesmo profundo desenvolvimento do espírito. E isso não só relativamente ao professor, mestre, mas também relativamente ao aprendiz, aluno.
Retrato de Antonin-Dalmace Sertillanges (1863-1948), conhecido também como Antonin-Gilbert Sertillanges ou Antonin Sertillanges. Fonte: Disponível em: <https://www.ebay.ca/itm/275847535102>. Acesso em 28 de ago., 2024. |
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