O presente autor foi, nesse feriado (21 abr.), ver o filme Jumper.
Embora atrasadas, destacar-se-ão aqui algumas impressões pessoais a respeito do filme:
Na opinião do presente autor, trata-se de um filme que reflete bem o atual mundo do individualismo, no qual vivemos. Poder-se-ia dizer também que o filme reflete muito bem o atual mundo capitalista, globalizado e alienado (SANTOS, 2000).
O filme conta a estória de um jovem que descobre ter o superpoder de se transportar imediatamente de um lugar para outro. Em suma, David Rice, o mocinho, após descobrir seu poder passa imediatamente a roubar bancos, e, com isso, fica rico.
Numa das cenas, pode-se dizer a cena-chave, o anti-herói, vê pela televisão algumas pessoas que estão se afogando em um grave alagamento ocorrido nos EUA, e, podendo salva-las, teleporta-se para Londres, onde vai curtir a noite inglesa. Some-se a essa atitude do personagem principal, o fato de que Rice, sempre que se vê em perigo, foge.
É o retrato do mundo atual, onde as pessoas são cada vez mais individualistas; preocupadas consigo mesmas e sem o mínimo interesse pela causa alheia: aquele que poderia ajudar (ou ainda, aquele que deveria ajudar) exime-se disso e vai cuidar de sua própria vida; a alteridade que se vire sozinha. Por outras palavras, pode-se dizer que vivemos uma era: a era do fim dos heróis (CARVALHO JÚNIOR, 2002)!
A psicosfera, que é o reino das ideáis, crenças, paixões, etc., está alienada da produção de sentido (SANTOS, 1996). Nesse contexto, o único sentido é o “se dar bem”, o outro “que se lixe”, “o que importa é o eu”, etc. Ora, quando o sentido é assim egocêntrico em demasia o social perde o valor. O social perdendo o valor aponta para o fato de que os outros tratar-me-ão como eu os trato, ou seja, friamente também. É o mundo da globalização como perversidade onde o que importa é o “se dar bem”, que implica necessariamente no prejuízo do outro (SANTOS, 2000).
Como ponto final, é importante destacar o fato da fuga da realidade. Como dito acima, o jumper David Rice sempre fugia: é o retrato da fuga, na qual muitos de nossos jovens (e adultos) caem: ao invés de encarar a realidade que a vida coloca, muitas pessoas, preferem fugir; e isso indica também uma falta de responsabilidade, um descompromisso em relação ao que quer que aconteça na vida, pois, em caso de perigo, basta fugir!
Enfim, esta é a impressão a que invariavelmente uma pessoa poderá chegar ao assistir Jumper, retrato de nosso mundo onde os superpoderes são usados em benefício próprio a guisa da alteridade.
Ponto para se refletir...
REFERÊNCIAS
CARVALHO JÚNIOR, Dario de Barros. A Morte do Herói: introdução ao estudo de sobrevivencia de modelos miticos nas historias em quadrinhos. 2002. 100 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo, Editora Hucitec, 1996.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro, São Paulo, Editora Record, 2000.
Para ir além num tema semelhante, ver o artigo "O UNIVERSO DO HOMEM SOCIAL E O LUGAR DA REALIDADE OBJETIVA: UM DIÁLOGO ENTRE PIERRE TEILHARD DE CHARDIN E MILTON SANTOS" de Cilene Gomes.