A religião embate-se constantemente com a ciência (e vice-versa). Nos países do Oriente Médio, embate-se, também, com a política que, naquela região, sabe muito bem utilizar-se da própria religião para alcançar seus interesses. No momento, a principal preocupação das autoridades religiosas muçulmanas é a definição do início do Ramadã.
O Ramadã, segundo o Alcorão, deve iniciar na sexta-feira, após a Lua Crescente, no nono mês do calendário Muçulmano – que é um calendário lunar, ou seja, ao invés de 30 dias (ou 31 dias), como o nosso (que é solar), possui 29,5 dias (ou 27,32 dias, considerando-se o período sideral da Lua; que é mais preciso por se basear nas estrelas). Assim, pelas mesmas razões que o Pessach (Passagem) dos judeus e a Páscoa (também passagem) dos cristãos, o Ramadã é uma data flutuante que, em princípio, deveria ser definida pelo movimento dos astros, especificamente da Lua.
Ocorre que nem sempre a Lua Crescente inicia a nomeada fase na quinta-feira (e, portanto, antes da sexta-feira). Por vezes, a Lua Crescente tem início no sábado, casos que freqüentemente ocorrem e fazem com que o Ramadã tenha início no mesmo dia, no próprio sábado, à noite. Essa flutuação de um dia (ou sexta-feira ou sábado) não é considerada um problema pelos muçulmanos, e, tão pouco, eles se queixam disso – o que importa em termos ritualísticos é que, na noite em questão, a Lua Crescente esteja no céu para que, efetivamente, inicie-se o Ramadã.
Este ano (2009), a Lua começa a fase “crescente”, nessa sexta-feira (21 de ago.) – o que requereria que o Ramadã iniciasse na noite do mesmo dia, pois, em tese, a Lua estará no céu, o que autoriza o Ramadã. Porém, como narra a reportagem abaixo, o mufti do Egito, (Sheikh Ali Goma) adiou o início dos jejuns para amanhã, dia 22 de agosto.
Como era de se esperar, as diferentes comunidades muçulmanas, dos diferentes países do Islão, entraram em ferrenhas discussões, pois, reivindicam que o Ramadã tenha início na mesma data em todos os países. Dizem, ainda, que a data deveria ser definida segundo a Lua, e não segundo a vontade (em princípio política) dos governantes.
Acompanhe a reportagem e dê a sua opinião:
O mufti do Egito, Ali Goma, máxima autoridade religiosa do país, determinou nesta semana que o Ramadã, o mês sagrado islâmico, começará neste sábado (22). O dia oficial de início do Ramadã sempre causa polêmica entre os países muçulmanos.
O Ramadã é um mês para o jejum, à família e ao recolhimento, no qual os crentes se abstêm de comer, beber, fumar e manter relações sexuais desde a alvorada até o pôr do sol. Para as tradições muçulmanas, o Ramadã ocorre no nono mês do calendário --mês no qual o profeta Maomé recebeu a revelação do Corão.
Conforme o Alcorão, o livro sagrado islâmico, o Ramadã começa no momento exato em que se inicia a fase crescente da lua. Daquele momento em diante, muçulmanos de todo o mundo iniciam jejum durante o dia. Desta forma, se a lua crescente aparece na noite de quinta-feira, o Ramadã começa na sexta. Se não, começa no sábado. No entanto, a política também influi na escolha da data, fato que aprofunda das divisões entre árabes e muçulmanos.
"Infelizmente, a política tem sua influência e as polêmicas sectárias também, o que contraria o ensino islâmico", disse, em entrevista à agência de notícias Efe Ibrahim Zeid Kilani, o líder da Frente de Ação Islâmica da Jordânia, responsável pela emissão de normas religiosas no país. "O fruto dessas decisões políticas é que o Ramadã começa em diferentes datas no Irã, Marrocos e Omã", afirmou.
Conforme Kilani, normalmente, quando Arábia Saudita e Egito decidem suas datas de início e fim do Ramadã, os outros países seguem um ou outro. Já o Irã, maior país muçulmano xiita, só começa dois dias antes ou depois que os muçulmanos, na maioria sunitas. Outras nações xiitas, então, como Iraque, Líbano, Kuait e Bahrein, seguem o Irã.
Para acabar com a polêmica, o clérigo defende o uso de instrumentos para determinar qual é o momento exato. "O sol e a lua seguem uma trajetória exata", disse.
No mesmo sentido, o acadêmico saudita Mohsen Awaji também lamentou que os políticos "usem essas ocasiões tão importantes" para dividir as opiniões dos muçulmanos e também defendeu o uso de instrumentos científicos. "Minha opinião é a de que a nação [muçulmana] deve se afastar dos políticos oportunistas e daqueles que temem a ciência."
A Folha online atribuiu a fonte da informação à agência Efe, no Cairo.
Fonte: Disponível em:
<<http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u613053.shtml>>.
Acesso em: 21 ago. 2009.