Por Donarte Nunes dos Santos Júnior
Sou
professor, e, para trabalhar com meus alunos em um projeto específico de literatura, recentemente, comprei um
livro. Trata-se do conto “A Penúltima Verdade” (de Philip K. Dick) – um clássico da ficção científica. A compra
foi feita pela Internet, por meio da
“carta registrada” dos Correios. O
pacote com o livrinho veio da cidade de Caxias do Sul, que é próxima à capital.
Assim, somente dois dias úteis foram
necessários para que encomenda chegasse ao seu destino. Eu, porém, só fui dar
de mão no embrulho sete dias depois. O
porquê disso eu explico abaixo:
O livreiro do
qual comprei, vendedor bastante bem recomendado, informou-me, por E-Mail, um número, o tal do “código de registro do correio”, através do qual,
é possível, através do site dos Correios, fazer o “rastreamento de
objetos” e ver a quantas anda a entrega.
Qual não foi
a minha surpresa quando, ao consultar minha encomenda, observei dados que
apontavam que já haviam sido feitas três tentativas
de entrega, e, como em todas elas, não havia ninguém em casa, o pacote estava
esperando para que eu o retirasse em
uma das sedes dos Correios, à rua
Ernesto Fontoura, 957, na tal da “CDD Zona Norte”.
Indo ao
endereço informado aproveitei para reclamar, pois sempre, mas sempre mesmo
tem gente em minha “humilde residência”. Então, reclamei ao atendente nos
seguintes termos:
- Prezado –
falei-lhe –, uma reclamação: sempre há
gente em minha casa, e, o site dos Correios, consta a informa que o carteiro tentou por três vezes fazer a entrega, e, em
todas, não encontrou ninguém. Ocorre que isso não é possível, senhor...
Ele perguntou:
- o senhor
mora em casa ou apartamento?
Respondi-lhe:
-
Apartamento.
Questionou
ele:
- O prédio
tem porteiro?
Repliquei:
- Não.
Concluiu ele:
- É por
isso...
Retruquei:
- Como
assim?! O prédio não tem um porteiro, mas tem o bom e velho interfone. Basta tocar o interfone, a
pessoa que está no apartamento desce, assina o formulário de entrega e pega o
pacote... Pronto!!!
O atendente,
em tom indiferente, informou:
- Não! O
carteiro não faz isso, não toca o interfone. Ele só entrega o pacote se houver
um porteiro...
- Ué?! – objetei
– Mas para entregar o volume ao porteiro,
não deve o carteiro tocar o interfone?!
– continuei, então: – E, uma vez,
tocando o interfone, não é só depois de ser atendido pelo porteiro que ele entrega o fardo?! Então – prosseguindo, disse: –,
não é a mesma coisa?!
Evasivamente,
respondeu o atendente:
- Não. Ele
não toca o interfone; deve entregar o embrulho direto ao porteiro. – E, reconvindo, sumarizou: – Porteiro é porteiro, deve
estar na porta, por isso o nome é
esse: por-te-i-ro...
Achando tudo
aquilo muito estranho, argumentei:
- Mas, em se
tratando de uma casa e não de um edifício, não toca o carteiro o
interfone?!
Como resposta
obtive um:
- Sim!!!
Toca!!!
- Então?!
- É
diferente. Ele só faz isso quando é Sedex.
- Silenciei o
diálogo, pois vi que se tratava de um funcionário que já estava com seu
“entendimento” cristalizado...
O
acontecimento retrata uma lógica bastante
ilógica que a instituição tem
apresentado em alguns de seus serviços.
Em tempos passados, os Correios eram
altamente considerados. Tratava-se de um órgão
estatal que funcionava muitíssimo bem!!!
Hoje, porém, isso tem mudado. Na realidade, o que está por trás disso, e faz
tempo, é o desejo, já antigo, de um expressivo contingente de nossos
governantes, que ambiciona a privatização dos Correios. Então, trata-se de um setor que, assim como a saúde, a segurança, a educação e outros, está sucateado, funcionando com lógicas
incompetentes, esdrúxulas e ridículas. É uma lástima, e, na verdade, um
descaso para com os cidadãos.
Na mesma
ocasião, uma moça, que estava na minha frente na fila, pois o mesmo tinha
acontecido com ela – e, o que é pior: ela não
tinha recebido nenhum aviso quanto a isso; só ficou sabendo que o seu
pacote estava naquela sede porque havia telefonado para lá –, não pode levar a
sua encomenda visto a mesma ter sido “localizada”, já que ela não dispunha do
supramencionado “código de registro do correio”.
Sem o tal número, nada feito: o nome, o CPF, o RG
e o Endereço, nada serve. Somente o “código de registro do correio” serve para
que uma encomende seja “localizada”. Aliás, em virtude disso, eu tive de fazer
duas viagens até o local, pois, num primeiro momento, eu também não dispunha do
número, e o site não orientava
no sentido de que ele devesse ser
levado quando da retirada.
Dorme com um
barulho desses...
Voltando um
pouco à questão do “Ele [o carteiro(a)] não toca o interfone [de prédios que
não têm por-te-i-ro]”: questiono-me:
“então, se é assim, por que ele(a) tentou três
vezes?!”. Se da primeira, ele(a)
viu que o prédio não tinha porteiro, para que servem as outras duas tentativas?! Observação: não eram carteiros(as) diferentes. Foi, em todas
as vezes, a mesma pessoa que “tentou” fazer a entrega, pois, no envelope, a
letra e a rubrica são as mesmas, o(a) tal “L”...
Para
concluir, voltemos à questão do “Ele [carteiro(a)] só faz isso [tocar o interfone
de prédios que não têm por-te-i-ro]
quando é Sedex.”: reflito: quer dizer
que a verdadeira lógica que impera é
a do: “se eu estou pagando mais caro, então, daí sim, tenho
serviços de qualidade”?!
Espero que o
presente relato possa servir como uma crítica
e/ou colabore para que aqueles que venham a passar por situação semelhante não
percam seu sempre precioso tempo.
|