Nosso país mostra, em todas as dimensões, a problemática da vida social. A vida individual dos pobres está cada vez mais dramática. Esse drama que se reflete no social é gerado, motivado sempre pelo fator econômico. Domingo dia 21/08/05, foi mais um dia entre tantos onde a problemática social pode ser observada, sobrtetudo para aqueles que têm um olhar mais crítico. Ocorreu na PUCRS mais um concurso público, seja ele: o concurso do “Tribunal de Justiça do Estado”. Segundo notícia de uma das pessoas que iria realizar a prova são mais de 18.000 inscritos para 5 (cinco) vagas . É sobre esse ponto que eu gostaria de refletir. Faz tempo que se verificam um sem número de concursos públicos que normalmente cobram taxas de inscrição interessantes (30, 40, 50, 80, 100 reais), dependendo do nível de estudo requerido para a vaga que está sendo oferecida. Para o concurso deste domingo o valor da inscrição foi de 30 reais. Vejamos: R$30,00 x 18500 (inscritos)= R$555.000,00. Interessante, não? Sem contar o fato de que esse tipo de “atividade”, no final das contas acaba arrecadando muito mais para o Estado. Se não vejamos a seguinte reportagem: “CORREIO DO POVOPORTO ALEGRE, DOMINGO, 21 DE AGOSTO DE 2005 Carris reforça a frota para concurso deste domingo
A Carris reforçará a frota neste domingo, quando ocorrerá o concurso do Tribunal de Justiça do Estado. Serão disponibilizados 17 horários extras nas linhas T1, T4 e 343/Ipiranga'PUC. Alguns desses horários extras terão o trajeto somente até a PUCRS, um dos locais onde será realizada a prova. Informações sobre itinerários e horários podem ser obtidas pelo Sistema de Atendimento ao Cliente Carris (0800-999855) ou por meio do site
Façamos agora o seguinte cálculo: 18.500 x R$1,75 (valor da passagem de ômibus) = R$32.375,00. Considerando que se trata de um domingo, e, teoricamente o movimento pela manhã é muito baixo, to rna-se uma soma interessante. Até aqui estamos com R$587.375,00 arrecadados, a maior parte, ao longo do período de inscrições, e outros tantos no dia da prova. Aliás, esse é um fato muito singular o qual podemos analisar. Normalmente esses concursos públicos, permanecem durante longos meses com o prazo de inscrição aberto. O que permite que muitos cidadãos se inscrevam, tornando a prova altamente concorrida. No caso do concurso para “Tribunal de Justiça do Estado” são mais ou menos 3.700 pessoas para cada uma das cinco vagas. Há um lado muito mais sombrio nisso tudo. Pessoas que estudam para esse tipo de prova são literalmente enganadas. Enganadas em todos os sentidos. Primeiramente estudam para uma prova de múltipla escolha o que leva, prepara tais pessoas a pensarem segundo um modelo pouco crítico onde só existe o sim, o não, o certo, o errado ou nenhuma das alternativas estão corretas. A vida não é assim. Sabe-se que há a complexidade. Há, aqui, ainda, a questão de que por mais que se estude, ao deparar-se com uma prova de múltipla escolha sempre há a dificuldade intrínseca da questão. Por ser de múltipla escolha é permitido uma variação muitíssimo grande de possibilidades, ludibriações lógicas, negações para afirmações, sendo que o contrário também se verifica, etc. Mas essa é uma questão muito pedagógica e complicada para ser analisa, aqui. E por que as pessoas, sabendo que existem fraudes em concursos, que não “passarão” e mesmo passando nunca serão chamadas, mesmo assim efetuam a prova? Poderia um dizer: “Ah! Mas alguém passará... Esse alguém posso ser eu!”. Isso é discutível, sobretudo se levarmos em conta as vagas preenchidas por parentes de políticos, que vemos todos os dias no noticiário. Respondendo a pergunta, agora, teremos uma resposta bastante simples, mas que se revela sombria quanto ao ponto de vista cultural. As pessoas fazem concurso público, porque há um enorme número de desempregados em nosso país, porque os cidadãos não contam com estabilidade em seus empregos e porque a maioria busca justamente isso: Um salário em torno de R$1.500,00 a R$2.000,00. Razoável para um pobre, acrescido da tão sonhada estabilidade. O livrar-se para sempre do medo de ser demitido é o grande fator que leva os cidadãos a correrem atrás do sonho de tornar-se funcionário público. Mas então, de tudo isso, o que se revela sombrio sob o ponto de vista cultural? O lado negro disso é que o povo, no fundo quer sossego. Não estou, agora, sendo um acusador e chamando o povo de vagabundo, como nosso presidente já o fez, não. Estou querendo chamar a atenção para o fato de que o povo, os cidadãos, cada um, cada jovem e adulto, não possui mais a ambição pelo saber. O povo preocupa-se com o pão. O saber, não interessa mais. O que se busca é uma vida um pouco menos sofrida, porque a atual quase mata o trabalhador com a chamada “dupla jornada” ou o subemprego, sem falar no humilhante salário mínimo (R$300,00). Sobra pouco para a cultura, para o estudo, para investir naquilo que realmente liberta: A Educação. O povo está cansado, pobre, fraco, e, na realidade sem esperança. Quem sabe dá para passar numa dessas provas e tornar-se um funcionário público... Enquanto isso, além de oprimir o povo e furtar sorrateiramente sua chance de liberdade, o sistema lucra um pouco mais...
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