O que é Antropologia Filosófica?
A presente reflexão trata-se do resumo da aula do Pe. Professor Dr. Pergentino Stefano Pivatto da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, ministrada no dia 09/08/2005, na sala 501 do 5º andar do prédio 5 (cinco) no Campus Central.
Antes de responder "O que é Antropologia Filosófica?", façamos uma sucinta reflexão a respeito do que nos escreve Max Scheler em seu livro intitulado “A Posição do Homem no Cosmo” (1928).
Scheler, no primeiro capítulo de seu livro, compara o homem aos demais animais. O filósofo alemão escreve que o homem possui quatro espécies de comportamento, sejam eles: Afetividade, Instinto, Memória Associativa e Inteligência Prática.
A afetividade é o que há de mais básico no homem. É como que o cepo de onde surgem, partem todos os demais comportamentos humanos.
O instinto, além de estar presente nos demais animais, está de igual modo, presente no homem. Há vários exemplos que nos mostram que o homem age, também, instintivamente: o susto, a luta pela vida, etc.
A memória associativa está relacionada à memória recente e mecânica. Pode ser verificada em alguns animais que “lembram” caminhos que já fizeram em busca de alimentos. O ser humano também possui tal memória, mas os animais surpreendem nesse aspecto. Testes feitos recentemente por cientistas ingleses com pardais, mostram que esses animais são capazes de associar caminhos por entre labirintos, atrás de comida. Os pássaros podem memorizar até trinta e seis caminhos por entre labirintos até chegarem à comida. O que os pássaros fazem é associar o caminho feito antes, e que “deu certo”.
Inteligência prática é a última e a mais elaborada. Porém, quanto a esse tipo de elaboração, podemos citar e comparar com os golfinhos, os primatas superiores e outros animais como o elefante, que também demonstram possuir esse tipo de inteligência.
Conclui-se de tudo isso, a partir da leitura de Scheler, que o homem é um animal como todos os outros. Mas o que então diferenciaria o ser humano dos demais animais? Aqui, abandonaremos a reflexão baseada em Max Scheler e deixaremos isso para o futuro, onde nos propomos a expor o que esse filósofo conclui em sua obra.
“O que diferencia o homem dos demais animas?”, “o que é o homem?”. Essas e outras perguntas relativas ao ser/pessoa/homem são preocupações da Antropologia Filosófica. O objeto de tal ciência é justamente esse: O Homem. O que diferencia o homem dos demais animais é o fato de o homem poder alterar seu “destino”, o rumo de sua vida. A filogênese (história da evolução da vida) é muito particular no homem. Há autores que dizem, que o homem traz consigo, todo o processo da filogênese. Estudos feitos através de imagens obtidas no ventre materno mostram que o homem ao evoluir passa, de uma forma equivalente, por todas as fases / etapas da evolução da vida. Inicia como uma “ameba” transforma-se em um “peixe”, depois em um “anfíbio”, logo após em um “pássaro”, e, finalmente em Homem. A ontologia humana (história do homem) é uma viagem rumo ao futuro. O homem é um ser que atinge uma metanóia (transformação) em sua vida. Filosoficamente podemos dizer que o homem está por vir, está por acontecer num processo recursivo. Recentemente teóricos debatem e sugerem que se analise a vida do homem a partir do futuro. Pesquisadores, perguntam-se hoje, como seria uma clínica de psicologia que analisá-se o homem, não mais partindo de seus traumas e problemas passados, mas sim com base no devir, no futuro?
Propomo-nos a responder, nessa breve reflexão, o que é a Antropologia Filosófica. Antes, porém, avancemos no seguinte sentido. Antropologia Filosófica é uma ciência, para uma ciência ser considerada como tal, necessita possuir um método. O termo “método” quer dizer caminho. Vem do grego: (“meta” = para além) + (“ódós” = caminho). Kant foi o primeiro filósofo que elaborou um método a esse respeito. É o chamado “método transcendental”. O método transcendental pressupõe as chamadas “condições de sustentação”, ou ainda, “condições de possibilidades”, que nada mais são do que categorias de análise, a partir das quais, podemos generalizar a todos os homens, características suas comuns. Alguns exemplos de “condições de sustentação” generalizáveis a todos os homens são: a razão (todos os homens, a princípio, são capazes de pensar), o corpo (todos os homens possuem um corpo físico) e a vida (todos, para serem “pessoas humanas”, necessitam da vida). Cabe citar que o cadáver não carrega mais vida, portanto não é mais uma pessoa. A vida, ainda pode ser dividida em vida intelectual, vida racional, vida psíquica e vida social.
No passado, na Antiguidade Clássica os gregos não davam ao termo “psique” o significado que ele tem hoje. “Psique” era tida como alma. O termo “Antropologia filosófica”, até aproximadamente o ano de 1958, chamava-se “Psicologia Racionales”. O nome “Antropologia filosófica”, assim como a nova abordagem para “psique”, é, portanto, recente. Porém o tema é antigo. Aristóteles escreveu sobre o assunto na obra intitulada. “Péris Psique”. Após essa breve reflexão, sigamos com a definição dada pelo professor Pivatto: “Antropologia Filosófica estuda o homem enquanto tal. Ou seja, o homem em sua generalidade. Aquilo que é comum a todos os seres humanos.”. (PIVATTO, Pergentino Stefano, 2005.).
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