Faço essa postagem especialmente para meus alunos do 1º ano do ensino médio. No primeiro bimestre, debatemos bastante sobre armas de destruição em massa e Geopolítica. Na oportunidade não pudemos aprofundar o assunto. Notei a curiosidade sobre o tema.
Coloco aqui um pouco mais, além do que já entreguei por escrito. Como está fazendo 60 anos que foram lançadas as bombas em Hiroshima e Nagazaki, a mídia está vinculando muitas informações sobre o assunto. A presente postagem foi retirada do site da National Geographic – Brasil (http://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/index.shtml). O acesso foi feito em: 05/08/2005, às 21 horas e 40 minutos.
Boa leitura, alunos!
(O que segue, agora é uma reportagem com Richard Rodes, escritor e especialista sobre o assunto. A fonte é mesma citada acima) "Já faz mais de 30 anos que escrevo a respeito de questões nucleares. Escrevi dois livros (a respeito do desenvolvimento da bomba atômica e da hidrogênio) e várias dúzias de artigos de revista, além de mais de cem palestras públicas. No começo, fui ingênuo de achar que estava contando a história de uma tecnologia: a descoberta de como produzir energia nuclear e sua aplicação na confecção de armas de guerra. Mas, quanto mais eu estudo o assunto, mais fundamental esta descoberta me parece. Teve conseqüências militares e científicas, mas teve e tem também conseqüências humanas e políticas que persistem. Para resumir: quando descobriu como liberar energia nuclear, a humanidade adquiriu um novo conhecimento a respeito do mundo natural. Anteriormente, a energia era cara e gravemente limitada, mas a energia nuclear é comparativamente barata e efetivamente ilimitada. Quando aplicamos este conhecimento, ficamos surpresos ao descobrir que uma guerra em larga escala que dependesse de energia nuclear – de bombas atômicas e de hidrogênio – já não era mais possível porque todos os envolvidos seriam dizimados pela destruição generalizada. O resultado, paradoxalmente, foi que a enorme e crescente onda de morte causada pelo homem da primeira metade do século 20, foi abruptamente interrompida em 1945. Foi controlada. Enquanto os arsenais persistirem, a destruição total ainda é possível. A Guerra Mundial não é." "Explorar o assunto das armas nucleares tem sido difícil e às vezes triste. Ao mesmo tempo, fez com que eu travasse contatos muito recompensadores com uma ampla comunidade de especialistas e vítimas. Na reportagem que escrevi em 1986, The Making of the Atomic Bomb (A Confecção da Bomba Atômica) – que me custou cinco anos de pesquisa e redação – quebrei a cabeça para descrever da maneira mais objetiva possível o trabalho do projeto secreto Manhattan que produziu as primeiras bombas atômicas durante a Segunda Guerra Mundial, as razões por trás do uso das bombas atômicas como armas e as conseqüências experimentadas pelos moradores de Hiroshima e Nagasaki. Na época, uma das minhas melhores e mais sombrias experiências foi ter sido convidado, em agosto de 1995, para as cerimônias que marcaram o 50º aniversário dos bombardeios atômicos, não só para falar aos veteranos e pioneiros do Laboratório Nacional de Los Alamos (EUA), onde as bombas foram projetadas e montadas, mas também para participar da 50ª cerimônia memorial em Hiroshima. Se ambos os grupos acharam que eu contei a minha história de maneira aceitável, então eu tinha alcançado a meta que colocara para mim mesmo." "Escrever “O Fantasma da Bomba” foi para mim uma revelação a respeito de como a Guerra Fria transformou a situação internacional no que diz respeito às armas nucleares. Por mais sensível e potencialmente apocalíptica que o confronto nuclear da época entre os Estados Unidos e a União Soviética tenha sido, sua estabilidade foi permanente. A boa notícia é que dezenas de milhares de armas nucleares foram desmontadas, fazendo com que classes inteiras de armamentos fossem eliminadas de arsenais nacionais. A má notícia é que uma segunda corrida armamentista, menor, teve início no Oriente Médio e no Oriente, com conseqüências todavia desconhecidas. Minha pauta para a National Geographic revelou-se um modo recompensador de atualizar a minha compreensão das ameaças internacionais das armas nucleares." Foto de Bettmann/CORBIS "No dia 25 de julho de 1946, a primeira detonação submersa de uma bomba atômica criou uma nuvem de vapor com mais de 1,5 quilômetro de altura, coroada por jatos de água ascendentes. Na sua base, a onde de choque que se expande a partir da explosão, vista como um anel esbranquiçado, engole uma frota de embarcações navais não-tripuladas.Como parte da Operação Encruzilhada – uma série de testes nucleares conduzidos pelas forças militares norte-americanas nas Ilhas Marshall, do oceano Pacífico – esta foi apenas a quinta explosão de uma arma atômica. Aconteceu quase um ano depois de bombas atômicas terem destruído as cidades de Hiroshima e Nagasaki no Japão, colocando fim à Segunda Guerra Mundial."
"Protegidos apenas por visores escuros, convidados das forças armadas dos EUA se acomodam em 1951 para presenciar uma explosão nuclear no Atol de Enewetak, no oceano Pacífico. O teste fazia parte da Operação Estufa, cujas explosões resultaram na queda de uma quantidade significante de material radioativo, representando risco à saúde dos espectadores e do pessoal de teste. Estima-se que cerca de 11 mil pessoas tenham morrido só nos EUA devido a resquícios de testes nucleares, segundo um estudo governamental do Centro de Controle e Prevenção a Doenças. O estudo relatou que 'qualquer pessoa que morre na porção continental dos EUA desde 1951 f oi exposta a resquícios radioativos'".
"A detonação da primeira bomba de hidrogênio agitou o céu no dia 1º de novembro de 1952, sobre o atol de Eneweta, no oceano Pacífico. A explosão-teste dos EUA, de codinome Mike Venenoso, acabou com a vegetação de ilhas próximas, fez uma cratera de mais de 1,5 quilômetro de diâmetro e lançou pedaços de coral atingido a mais de 50 quilômetros de distancia do ponto de explosão. Uma única bomba de hidrogênio poderia destruir o centro de qualquer cidade grande com sua onda de calor que derrubaria prédios, dissiparia radiação gama letal e causaria incêndios generalizados que matariam centenas de pessoas."
"Soldados do Exército dos EUA mostram uma das menores armas nucleares já disponibilizada: o projétil Davy Crockett. Esta ogiva tática, lançada de um rifle sem rebote, carrega força de explosão de até um quiloton, o equivalente a milhares de toneladas de TNT. Apesar de soldados norte-americanos terem usado o Davy Crockett na Europa, entre 1961 e 1971, durante a Guerra Fria contra a União Soviética, a bomba nunca foi usada em combate. No en tanto, fez uma ponta explosiva em um filme d e 1962, King Kong vs. Godzilla." "A descoberta da fissão – a divisão do núcleo de um átomo – talvez tenha sido o principal avanço científico que contribuiu para a produção da bomba atômica. Os pesquisadores alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann normalmente são reconhecidos como os co-descobridores da fissão atômica – Hahn recebeu o Prêmio Nobel de química em 194 por causa disso. Mas existe uma colaboradora próxima e fundamental dos dois homens que quase sempre passa despercebida. O nome dela era Lise Meitner. Lise Meitner, pesquisadora nascida na Áustria, tinha trabalhado durante décadas com Hahn, na Alemanha, em experimentos com radiação química. Mas, em julho de 1938, com a tomada do poder pelos nazistas, Meitner, que era judia, fugiu do país. Hahn e Strassman deram continuidade aos experimentos da equipe. Posteriormente, naquele mesmo ano, depois de bombardear urânio com nêutrons, descobriram o bário. Os resultados foram enviados para Meitner, que estava na Suécia.
Meitner, juntamente com seu sobrinho, Otto Frisch, foi capaz de interpretar e explicar a importância dos resultados obtidos pelos dois cientistas – e ela batizou o processo de fissão nuclear. Publicou a primeira tese fornecendo explicação teórica sobre o que tinha sido descoberto, explicando que os átomos podiam ser divididos, subseqüentemente liberando enormes quantidades de energia. Essa liberação energética se tornaria realidade na forma das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945. Meitner, no entanto, recusou-se a trabalhar nas iniciativas dos Aliados para produzir a Bomba Atômica durante a guerra, ciente de suas conseqüências potencialmente devastadoras.
A cientista ignorada foi parcialmente vingada em 1966, quando Meitner, Hahn e Strassman receberam juntos o Prêmio Enrico Fermi por suas contribuições científicas." (Christy Ullrich)
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