Por Donarte Nunes dos Santos Júnior
Sendo
professor, e professor de Geografia. O presente autor tem sido cobrado, por
alunos e colegas, no sentido de oferecer uma análise, uma explicação para
os últimos acontecimentos em nosso país; sobre as manifestações em todo o território nacional.
O presente
texto tem o objetivo de saciar parte das supraditas solicitações. A palavra “parte”
foi escrita porque o presente texto se trata, como o leitor poderá verificar,
de um escrito excessivamente superficial. Ainda assim, apesar de ser uma gota
no oceano, trata-se de um auxílio aos que estão ávidos em entender os últimos
fenômenos políticos e socioculturais em nosso país. Para tanto, o escrito está
dividido em duas partes, quais sejam: (i) a análise
da opinião dos “especialistas” e “autoridade” que estão a falar sobre o
assunto, ou seja, a profissão (já que
sou professor) que faço com base neles, e, por fim, (ii) a opinião pessoal do
autor, procurando ser ela mais ou menos isenta e apartada de (i); com a devida
desconfiança, é claro, para o fato de isso ser ou não possível.
Quando vamos à
Deep Web
para pesquisar o que os “especialistas” andam escrevendo (obs.: repito: sou pro-fes-sor, portanto, pro-fes-so: “sigo”, “exerço”, “tomo”,
“dedico”, “faço uso público de”, etc. Assim, preciso, é obrigação
minha a de saber o que as “autoridades” e “especialistas” (entre “aspas” mesmo)
andam dizendo). Então, como dizia, quando vamos à Deep Web buscando “opiniões” e “análises” balizadas, encontramos
teóricos que podem ser divididos geograficamente em dois grupos, a saber: (a) teóricos internacionais e (b) teóricos nacionais; os segundos, por
razões óbvias, são preferíveis aos primeiros; os primeiros, por razões também
óbvias, são menos “contaminados” com ideologias partidárias nacionais, locais,
provincianas e bairristas.
Em se tratando
de teóricos internacionais há a
forçosa comparação entre o que está acontecendo no Brasil e a Primavera Árabe. Tais análises se perdem
num vai e vem que não dá conta de fenômenos que são sempre diferentes, por
estarem em espaços diferentes. Embora
muito se possa discutir sobre isso, o axioma
geográfico permanece: espaços
geográficos diferentes geram (sem com isso estar sendo determinista) fenômenos diferentes.
Então,
tentando desesperadamente dar uma explicação ao fenômeno próprio brasileiro,
entre os teóricos internacionais,
aparecem pensadores do tipo Michel Maffesoli
que tentam explicar que as gerações que são filhas da educação Moderna nunca conseguirão entender as
atuais manifestações que, de sua parte, são filhas de uma educação Pós-moderna. O que está por trás disto é
o seguinte: a educação racionalista que
muitos de nós recebemos não conseguirá explicar os atuais fenômenos do/ no
Brasil porque os mesmos são fruto de uma educação
pós-moderna que se baseia não na razão,
mas no simbolismo, na significação que as causas têm, no simbólico,
no subjetivo, no sentimento e pertencimento que
as pessoas têm em relação as causas
pelas quais estão lutando.
Dentre os teóricos nacionais que se filiam a esta
corrente, Juremir Machado da Silva
pode ser citado. Em seu blog, Silva
escreve deixando claro o “pelo que os manifestantes não estão lutando”... Assim, segundo Juremir, os manifestantes não estão lutando contra Dilma, Lula ou
PT, mas contra o legado que deles permanece; e não só que deles permanece:
contra a: “[...] corrupção, que não apresenta como uma novidade no Brasil, mas
como uma praga histórica sempre renovada.”.
Poder-se-ia
dizer que este tipo de análise é uma análise própria dos teóricos da pós-modernidade (quiçá hipermodernidade (Lipovetsky (2004)) ou da hipervirtualidade
(Silva (2001) – visto que muitas das manifestações estão sendo organizadas
previamente via “redes sociais virtuais”).
Ainda entre os
teóricos internacionais, há os que
procuram, contrariamente às análises pós
e hiper relativas à modernidade, reencaminhar as análises à
realidade concreta dos fatos; encaminhando mesmo até um contexto propriamente geográfico; porque relativo ao território e à territorialidade propriamente dita. Dentre estes, estão Jonathan Watts
que chama a atenção para pautas de manifestações bem geográficas, porque lidam
com a movimentação de pessoas no espaço. Para Watts, uma das principais
reclamações é a de que pessoas estão tendo de abandonar suas casas, pois as
mesmas estão no “caminho dos estádios”;
e isso, ainda segundo Watts, é negligenciado pela Mídia nacional brasileira!!!
Dentre os teóricos nacionais que se associam ao
ponto de vista de Jonathan Watts estão Bob Fernandes. É pertinente notar que
ambos fazem uma “análise” e uma “explicação” bastante econômica da situação, com dados
(estatísticas, números, gráficos, etc.) – na realidade são jornalistas e não propriamente teóricos ou pensadores –,
mas, são pertinentes porque também encaminham a perguntas do tipo: “o que no homem (sobretudo no homem
brasileiro) está doente?”, e, “como fica a relação ‘corrupção’ e
‘corruptores’ ao longo desse ‘processo-lixo’ que é visto e vivido no Brasil?”... Segundo
Fernandes, muito bem mostrado através de números, “é hora de o Brasil se olhar no espelho” e “acordar para os gastos e a corrupção”.
Tais pontos de
vista podem ser chamados, por assim dizer, de racionalistas
e pragmáticos.
Meandrando entre as categorias
dos teóricos internacionais e dos nacionais estão alguns pensadores que,
por não estarem mais no território nacional, por terem ido constituir moradia
nos EUA, mas, ainda assim, por serem brasileiros natos, acabam se encaixando
nas duas categorias. Tais “análises” e “explicações” acabam sendo as mais
polêmicas, mas, e até por isso mesmo, as mais importantes de serem conhecidas.
Dentre estes, cite-se Olavo de Carvalho, que, entre outras coisas, lembra-nos
de que:
Para este tipo
de pensador, o que anda acontecendo no Brasil, nada mais é do que uma etapa
bastante clara e previsível de um projeto que foi arquitetado pelo Foro de São Paulo.
Assim,
O movimento arruaceiro foi lançado pelo Foro de SãoPaulo, como confessou o sr. Valter Pomar, para forçar um "upgrade" doprocesso revolucionário, passando da fase "de transição" para a de"ruptura". Como sempre acontece nessas ocasiões, alguns líderes daprimeira fase teriam de ser sacrificados, caso não se adaptassem rapidamente aonovo ritmo das mudanças. A presidenta Dilma Rousseff e até o PT como um todoapareciam no cardápio como fortes candidatos à posição de cabeças cortadas. A"Constituinte" de Dona Dilma é apenas um recurso desesperado a queela faz apelo para salvar o próprio pescoço, mostrando serviço ao Foro paraprovar que, em vez de ser passada para trás, pode tomar a dianteira do processoe tornar-se sua condutora em vez de sua vítima. Evidentemente, isso implicaatenuar um pouco o sentido da "ruptura" e esticar um pouco a fase de"transição", criando uma etapa mista que assegure a sobrevivência, nopoder, de pelo menos uma parte da primeira geração de líderes revolucionários,tradicionalmente a candidata maior ao exílio ou ao cemitério quando chega a faseda "ruptura". Como todo governante "de transição", Lula eDilma sempre viveram de arranjos e acomodações, aos quais agora o Foro de SãoPaulo queria dar um "basta". A reação "de direita" que seviu nas ruas mostrou que a "ruptura" era um tanto prematura demais, eisso, de certo modo, devolveu a iniciativa do processo ao governo "detransição". Meno male. Em todo caso, o fator agente decisivo é, agora comoantes, o Foro de São Paulo. Dilma é o rabo que jamais abanará o cachorro.
Este tipo de
observação pode ser considerada como aquela que, se não é propriamente um ponto
de vista desde a direita, ao menos,
se encaixa em teorias que beiram a teoria
da conspiração – o que não desqualifica em nada as chamadas de atenção.
Para
contrastar com este ponto de vista, repita-se, por assim dizer, pendente à direita, o discurso contrário, aquele
que pende à esquerda, é verificado nos pontos de vista, de, e.g., Emir Sader. Para Sader, “tudo isto que tá aí”
é resultado das lutas dos partidos de esquerdo,
sobretudo as lutas do PT. Ainda segunda Sader, com o último pronunciamento da PresidentA
temos a “reforma política nas mãos do povo”.
Digno de nota,
é o fato de Sader ser um teórico estritamente nacional, diferentemente de Carvalho,
que é nacional e internacional. Ambos estão diametralmente opostos no tabuleiro
ideológico; um, Olavo, à direita;
outro, Emir, à esquerda. N.B.: Olavo de Carvalho, frequentemente, não aprecia muito ser enquadrado como pensador de “direita”.
O problema
destes pontos de vista, por assim dizer, pós
e hiper em relação à modernidade, os racionalistas e economicistas
e os ideológicos é que nenhum
deles dá uma explicação satisfatória;
os primeiros, ficam em uma evolução mental em nada colada com a realidade
concreta, falam em simbolismos e blá-blá-blás; os segundos, expõem a ferida
(usando dados e fatos), apontam para as causas desta ferida, porém, não propõem
soluções; os terceiros, são carregados de um ranço ideológico que muitas
vezes os fazem cair no ostracismo – se bem que, na grandessíssima maioria das vezes, isso se dá por ignorância do leitor.
Há ainda as
“análises” e “explicações” (sempre entre “aspas”) dos órgãos “isentos”, tais
como o Coaf
que dão conta dos exorbitantes gastos feitos ao longo dos últimos dez anos e
que beiram o bilhão, circulando, através de “movimentações financeiras atípicas”, somente nos tribunais
nacionais.
Passe-se à
segunda parte do texto, onde o presente autor expõem o seu ponto de vista, qual
seja: (ii) fica claro que o Estado está
ávido por recursos (vide novamente o último pronunciamento da PresidentA,
sobretudo à partir dos 13min.). Esta avidez
por recursos se dá pelo fato de a
máquina estatal ser, ela e somente ela, por si só, extremamente onerosa e mal
administrada. Não é possível que um político custe o que custa no Brasil.
Não é possível as coisas (todas elas) serem superfaturadas em nosso país.
Tirante os dados e fatos supracitados, o que, por si só, já seria um horror que deveria ser cortado pela raiz, cite-se o fato de
os nossos políticos não governarem para
quem eles deveriam governar, ou seja,
não governarem para o povo. Para quem eles governam, então? Resposta: governam para as empresas e para si mesmos.
Conferindo-se a declaração de bens de, e.g.,
Lula, ou seja, conferindo-se aquilo que ele tinha antes de ser presidente,
e, conferindo-se o que ele adquiriu após seu primeiro mandato,
vê-se que muito, mas muito dificilmente um mortal normal conseguiria tal feito
em outra “profissão”. Aliás, este é o problema:
política no Brasil virou profissão, e não serviço. “Eles” entram para a vida pública e não saem nunca mais!!!
Ficam, literalmente, “mamando” na
“teta” do Estado uma vida toda, e, ao longo deste período,
favorecendo também amigos, parentes e amantes.
Não é incomum
pegarmos políticos que, ao longo de uma longa vida política, mesmo que ilibada, tenham feito tão somente meia dúzia de projetos, contribuindo,
assim, em quase nada para com nosso país.
Assim e
justamente por isso, também não é incomum os políticos virem a público, de
braços dados; inimigos ideológicos,
mas de braços dados (como no último pronunciamento de Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Addad (PT))
dizendo que vão “cortar investimento”, pois, “as empresas não dão conta”... Ou
seja, “coitadinhas das empresas”, elas não conseguem dar conta de prestar um
bom serviço ao povo, pois, sendo barato, elas não suportam não terem lucros exorbitantes (ver, de novo, o pronunciamento de Alckmin e Addad, à partir do 2min. e 23seg., especialmente).
Deste modo,
temos uma farra de gastos com o dinheiro público que não volta, como deveria,
para o povo. Nenhum, repita-se, nenhum país
ou sistema suporta uma gestão deste
tipo...
Um
importantíssimo e falecido teórico da geografia, Milton Santos,
por diversas vezes repetiu: “as empresas não podem querer o bem da população,
não lhes compete isso. Elas querem o lucro. Quem deveria querer o bem do povo é
o Estado”. Repetiu, também: “nosso povo não é cidadão, não luta por seus
direitos, é, no máximo, cliente, não é cidadão”. Com isso, temos aqueles que deveriam fazer e não fazem
nas duas pontas da gangorra: povo e governo; cada um
cuidando de si como pode. Quem leva a pior por pior poder cuidar de si? O povo ou o governo (melhor ainda: ou os governantes?)?
Ainda uma
palavra com relação às análises aduzidas na primeira parte do presente texto
(i): de todas elas, o presente autor prefere a que, infelizmente, cai no ostracismo por ser
chocante demais, qual seja, a de Olavo de Carvalho. Assim, tomemos cuidado com
o golpe que está por vir e com quem está
arquitetando-o...
REFERÊNCIAS
LIPOVETSKY, Gilles. Os Tempos Hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.
SILVA, Juremir Machado da. Interatividade imaginal e
criatividade virtual. Educação,
Porto Alegre, v.24, n.44, 2001, Porto Alegre. P.9-18.
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