segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Sabemos ou não sabemos? A razão "é" ou "não é"?
É interessante como, ao estarmos estudando assuntos específicos, idéias diametralmente opostas nos assaltam. Ao ler e escrever sobre Hegel, descubro um pensador que acreditava na Razão. Tal como Kant, Fichte e Schelling, Hegel queria encontrar, pela Razão, manifestada num sistema metafísico, e, ao mesmo tempo, manifestada por um idealismo objetivo, a Totalidade, o Absoluto... Pensava ter encontrado a chave que serviria para abrir as portas de um mundo que não mais ofereceria mistérios ao homem, um mundo que, radiografado pela Razão, teria sido apreendido em sua dialética de desdobramento imanente.
Então, paradoxalmente, deparo-me, graças ao Colóquio: "Les Maîtres à Penser: Clássicos do Pensamento Francês" com a palestra proferida pelo Prof. Dr. Pe. Zilles que apresentou o pensamento do filósofo francês Gabriel Marcel (1889-1973). Para Marcel, há uma dupla de conceitos extremamente interessantes e que são, respectivamente, verificáveis e não verificáveis: tratam-se do problema e do mistério. A problema é verificável (e pode ser solucionado), pode o observador ir até a área de estudo, e, tal como geógrafo, empiricamente, deparar-se com o que está estudando para tirar conclusões e provar algo. Porém, o mistério, segundo Marcel, sempre será mistério... Nunca saberemos tudo acerca de uma pessoa, nunca saberemos tudo acerca de nós mesmos... Permanecerá, sempre, um mistério no mundo que nos circunda; seja o mundo objetivo, subjetivo ou intersubjetivo.
Na mesma noite, o Colóquio “Clássicos do Pensamento Francês”, apresentou, por intermédio do Prof. Dr. JuremirMachado, o pensamento de Jean Baudrillard (1929-2007). Esse último pensador, que flerta fortemente com o niilismo, causa enjôos estomacais. Faz isso, porque mostra o quanto nós, seres humanos, somos idiotas, estúpidos, egocêntricos e mais alguns adjetivos que poderiam ser conferidos à sociedade humana atual. Chama atenção a argumentação acerca das massas e da mídia. Para Baudrillard, a mídia não deve ser culpada sozinha pela veiculação que faz. Afinal, a mídia faz como faz porque há a solicitação das próprias massas, que, por sua vez, querem o espetáculo e não a informação. Assim, a mídia finge que informa, mas dá espetáculos, enquanto as massas fingem que querem informação, mas desejam espetáculos.
Voltando ao assunto que versa sobre o poder da razão (que depois do último parágrafo, já pode até ser escrita com “r” minúsculo), somemos às colocações anteriores, os postulados da Escolade Frankfurt, principalmente os de Theodor Adorno (1903-1969) e acrescentemos, ainda, a desconstrução de Jacques Derrid (1930-2004) – autores que tenho estudado na disciplina do Prof. Dr. Ricardo Timm de Souza. Teremos, então, após isso, o enterro definitivo da razão, tal como Hegel a imaginava.
Esse tipo de argumentação pós-metafísica, pós-estruturalista e pós-racionalista, por vezes, vai ao extremo de defender que, ao invés de nunca sabermos tudo de algo, o que ocorre é que nunca saberemos nada de nada. Assim, derruba-se de vez a razão, por mínima que seja, e não sobra nada. Veja-se a passagem abaixo:
Ninguém Sabe Coisa Alguma
Porque nós não sabemos, pois não? Toda a gente sabe. O que faz as coisas acontecerem da maneira que acontecem? O que está subjacente á anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos? Ninguém sabe, professora Roux. «Toda a gente sabe» é a invocação do lugar-comum e o inimigo da banalização da experiência, e o que se torna tão insuportável é a solenidade e a noção da autoridade que as pessoas sentem quando exprimem o lugar-comum. O que nós sabemos é que, de um modo que não tem nada de lugar-comum, ninguém sabe coisa nenhuma. Não podemos saber nada. Mesmo as coisas que sabemos, não as sabemos. Intenção? Motivo? Consequência? Significado? É espantosa a quantidade de coisas que não sabemos. E mais espantoso ainda é o que passa por saber. (Philip Roth, in "A Mancha Humana").

Incomodado que estou com o assunto, pergunto: a quem pode interessar este tipo de concepção acerca da Razão!?
posted byDonarte N. dos Santos Jr.@segunda-feira, outubro 12, 2009  
1 Comments:
  • At segunda-feira, 19 outubro, 2009, Anonymous Anônimo said…

    "O que está subjacente á anarquia da sequência dos acontecimentos, às incertezas, às contrariedades, à desunião, às irregularidades chocantes que definem os assuntos humanos?", eis a questão. < A anarquia da sequencia dos acontecimentos > é o que me chama mais a atenção neste texto. É o dilema do < estado das coisas > que minha mente tem vivido nos últimos dias. A tal < razão > que nada sabe, sabe menos ainda de tudo que está acontecendo...
    Júlia

     
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- “A Argo: Nave dos Argonautas, construída sob a direção de Minerva, nos bosques de Dodona. O termo significa ‘rápido.’

O Fernando Pessoa...:

- o seguinte poema do escritor português:


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. (Fernando Pessoa)



A antipatia a Nietzsche...:

- Parece poder ser possível usar o Nietzsche contra ele mesmo: "Nietzsche vs Nietzsche", pois o que ele escreve, se bem analisado, é contraditório (no mal sentido do termo). Assim, isso é bem possível de ser feito...

A contra-argumentação aos céticos...:

- “Só se poderia negar a validez à demonstração se se provasse, com absoluta validez, que o homem nada pode provar com absoluta validez” (SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia Concreta. São Paulo: É Realizações, 2009, p. 61).

 
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    - É Especialista no Ensino de Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
    - É Mestre em Educação em Ciências e Matemática (PUCRS).
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    - Foi Técnico em Geoproce ssamento do L/li/liaboratório de Tratamento de Imagem e Geoprocessamento (LTIG) da PUCRS.
    - É Professor da Prefeitura Municipal de Porto ALegre.
    Título da primeira dissertação de mestrado:
    “Geografia do espaço percebido: uma educação subjetiva”, que alcançou grau máximo obtendo nota 10,0.

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