No atual contexto, em que tanto se fala dos efeitos nocivos dos gases CO2, e, na mesma conjuntura em que os EUA relutam em aderir às políticas de reduções das emissões de tais gases, muitos se fazem a seguinte pergunta: “Mas afinal, por que os Estados Unidos relutam em assinar tratados e projetos que se comprometem em reduzir os gases de efeito estufa?” Não há como entender isso sem uma reflexão geopolítica, cultural.

Esta breve postagem, porém, ater-se-á à esfera cultural. É interessante analisar uma “lógica” que é, toda ela, bem estadunidense: cidadãos de alto poder aquisitivo, nos EUA, não mais buscam regiões centrais para morar. É o Sprawl – fenômeno de espraiamento urbano – que faz com que bairros inteiros sejam construídos longe dos grandes centros; lá onde pessoas de maior poder econômico podem desfrutar das amenidades da natureza. Dentre as “suavidades” naturais buscadas pelos opulentos da América do Norte, pode-se citar: os lagos (artificiais ou não), as imediações vegetadas, as grandes áreas para lazer e esporte, etc. Este “American way of life” que influencia há anos o modo de vida planetário, já é perceptível nas cidades brasileiras.

Porém, é no país do Tio Sam que a cultura da fuga para as edge cities – que são as cidades formadas onde anteriormente só havia fazendas, em regiões afastadas das metrópoles – se mostra mais superlativa. Veja-se o caso do Sierra Sky Park, na cidade de Fresno. O Sky Park da Califórnia trata-se de um bairro com mais de 53 hectares e é composto por casas luxuosas, mansões com grandes garagens onde os moradores não chegam apenas de automóveis, mas sim, e principalmente, de avião; um bairro feito para ricos que afastaram-se dos centros urbanos e que, para não perderem tempo nos congestionamentos (que graças à demanda, acontecem até mesmo nas highways) locomovem-se pelos ares.

Conclui-se que, culturalmente, o modus vivendi norte-americano não busca sanar os problemas urbanos. Não pretende, na prática, a construção de centros integrados por menores distâncias – o que economizaria em gastos com infra-estrutura, aproximando-se, assim, da sustentabilidade –. Busca, antes, a manutenção de uma segregação espacial que, certamente, é financiada pelo Estado, e, consequentemente, pela Indústria do Petróleo; dinâmicas que encaminham para uma discussão geopolítica.

Aspecto parcial do Sierra Sky Park (FONTE: Disponível em: <http://www.aerotourisme.info/Vendee-Air-Park.html>. Acesso em: 27 de dez. 2007).

Aspecto de parte do "bairro" Sierra Sky Park (FONTE: Disponível em: <http://www.aerotourisme.info/photos.php?lang=fr&id_document=147>. Acesso em: 27 de dez. 2007).

Quem perde? O Meio Ambiente, e, por conseguinte, o homem que também é natureza.

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos.” (PROUST, Marcel).

Para Collot (1990): “a paisagem é definida a partir do ponto de vista de onde ela é observada” (p. 22).

O supradito teórico ainda escreve que:

[...] a paisagem não é um objeto autônomo em si em face do qual o sujeito poderia se situar em uma relação de exterioridade; ela se revela numa experiência em que o sujeito e o objeto são inseparáveis, não somente porque o objeto espacial é constituído pelo sujeito, mas também porque o sujeito, por sua vez aí se acha envolvido pelo espaço [...] (p. 22).

REFERÊNCIA:

COLLOT, Michel. Pontos de vista Sobre a Percepção das Paisagens. Boletim de Geografia Teorética, vol.20(39), 1990, p.21-32.