quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
Os grandes, caros e afastados bairros, os Urban Sprawl norte-americanos...
No atual contexto, em que tanto se fala dos efeitos nocivos dos gases CO2, e, na mesma conjuntura em que os EUA relutam em aderir às políticas de reduções das emissões de tais gases, muitos se fazem a seguinte pergunta: “Mas afinal, por que os Estados Unidos relutam em assinar tratados e projetos que se comprometem em reduzir os gases de efeito estufa?” Não há como entender isso sem uma reflexão geopolítica, cultural.


Esta breve postagem, porém, ater-se-á à esfera cultural. É interessante analisar uma “lógica” que é, toda ela, bem estadunidense: cidadãos de alto poder aquisitivo, nos EUA, não mais buscam regiões centrais para morar. É o Sprawl – fenômeno de espraiamento urbano – que faz com que bairros inteiros sejam construídos longe dos grandes centros; lá onde pessoas de maior poder econômico podem desfrutar das amenidades da natureza. Dentre as “suavidades” naturais buscadas pelos opulentos da América do Norte, pode-se citar: os lagos (artificiais ou não), as imediações vegetadas, as grandes áreas para lazer e esporte, etc. Este “American way of life” que influencia há anos o modo de vida planetário, já é perceptível nas cidades brasileiras.


Porém, é no país do Tio Sam que a cultura da fuga para as edge cities – que são as cidades formadas onde anteriormente só havia fazendas, em regiões afastadas das metrópoles – se mostra mais superlativa. Veja-se o caso do Sierra Sky Park, na cidade de Fresno. O Sky Park da Califórnia trata-se de um bairro com mais de 53 hectares e é composto por casas luxuosas, mansões com grandes garagens onde os moradores não chegam apenas de automóveis, mas sim, e principalmente, de avião; um bairro feito para ricos que afastaram-se dos centros urbanos e que, para não perderem tempo nos congestionamentos (que graças à demanda, acontecem até mesmo nas highways) locomovem-se pelos ares.

Conclui-se que, culturalmente, o modus vivendi norte-americano não busca sanar os problemas urbanos. Não pretende, na prática, a construção de centros integrados por menores distâncias – o que economizaria em gastos com infra-estrutura, aproximando-se, assim, da sustentabilidade –. Busca, antes, a manutenção de uma segregação espacial que, certamente, é financiada pelo Estado, e, consequentemente, pela Indústria do Petróleo; dinâmicas que encaminham para uma discussão geopolítica.

Aspecto parcial do Sierra Sky Park (FONTE: Disponível em: <http://www.aerotourisme.info/Vendee-Air-Park.html>. Acesso em: 27 de dez. 2007).


Aspecto de parte do "bairro" Sierra Sky Park (FONTE: Disponível em: <http://www.aerotourisme.info/photos.php?lang=fr&id_document=147>. Acesso em: 27 de dez. 2007).


Quem perde? O Meio Ambiente, e, por conseguinte, o homem que também é natureza.

posted byDonarte N. dos Santos Jr.@quinta-feira, dezembro 27, 2007   0comments
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
PAISAGEM: aproximações centradas no sujeito!

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos.” (PROUST, Marcel).

Para Collot (1990): “a paisagem é definida a partir do ponto de vista de onde ela é observada” (p. 22).

O supradito teórico ainda escreve que:
[...] a paisagem não é um objeto autônomo em si em face do qual o sujeito poderia se situar em uma relação de exterioridade; ela se revela numa experiência em que o sujeito e o objeto são inseparáveis, não somente porque o objeto espacial é constituído pelo sujeito, mas também porque o sujeito, por sua vez aí se acha envolvido pelo espaço [...] (p. 22).
REFERÊNCIA:
COLLOT, Michel. Pontos de vista Sobre a Percepção das Paisagens. Boletim de Geografia Teorética, vol.20(39), 1990, p.21-32.
posted byDonarte N. dos Santos Jr.@segunda-feira, dezembro 10, 2007   0comments
quinta-feira, 6 de dezembro de 2007
NUMA MOVIMENTADA AVENIDA DE PORTO ALEGRE.
Numa manhã sonolenta o trabalhador foi trazido de volta de seu devaneio por um ruído agudo e metálico produzido pelo freio de um ônibus. Particularmente alta, mas não rara em cidades como Porto Alegre, a estridência do som feriu-lhe os tímpanos. Por uma fração de segundos ele voltou ao devaneio, mas eis que, novamente, foi trazido de volta pelo mesmo caminhão que, ao arrancar, produziu com seu motor estridência maior ainda, contínua e seguida de negra e espessa nuvem de fumaça lançada pelo escapamento – por onde deveria sair – e por vários pontos abaixo do veículo – por onde não deveria sair.


O trabalhador, como que acordando, passou a observar as imediações: naquela manhã cinza, a movimentada avenida combinava com o céu. Cinza escuro até cinza claro, num degrade monocromático, eram as cores dominantes da paisagem urbana. O preto também se fazia presente nas fumaças expelidas pelos canos de descarga dos ônibus, automóveis e caminhões. Pessoas sonolentas vestidas das mais variadas cores desfilavam pelo cenário. Parecia que, naquele momento, uma antiga e suja tela de linho começava a ser pintada, e o pintor, em sua ânsia, descarregava muitas pinceladas de cores diferentes em pontos diversos na tela. Muitos dos traços pintados – as pessoas que caminhavam – eram esfumados, estavam envoltos pela névoa azulada dos cigarros que fumavam, e iam, com isso, incensando fetidamente o entorno.


Todo este malcheiroso caleidoscópio monocromático, esfumaçado e salpicado isoladamente com cores destoantes pareceu ao trabalhador demasiadamente decadente, mas, ainda assim, vivo. As vidas, no entanto, cada uma delas em sua individualidade vivida, perambulavam sonâmbulas pela rua. Absortas estavam em suas preocupações, em situações que se situavam fora do “ali”. Todos se quedavam aparentemente cansados e despresentes. Estavam, sem dúvida, distraídos a fazer algo mecanicamente. Tal como o trabalhador, todos os que se encontravam na cinza avenida dirigiam-se ao trabalho.
posted byDonarte N. dos Santos Jr.@quinta-feira, dezembro 06, 2007   0comments
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Algumas ideias que batizaram e permeiam o presente ciberespaço; pensamentos mais ou menos fixos que o autor tem:
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A Mitologia Grega...:

- “A Argo: Nave dos Argonautas, construída sob a direção de Minerva, nos bosques de Dodona. O termo significa ‘rápido.’

O Fernando Pessoa...:

- o seguinte poema do escritor português:


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. (Fernando Pessoa)



A antipatia a Nietzsche...:

- Parece poder ser possível usar o Nietzsche contra ele mesmo: "Nietzsche vs Nietzsche", pois o que ele escreve, se bem analisado, é contraditório (no mal sentido do termo). Assim, isso é bem possível de ser feito...

A contra-argumentação aos céticos...:

- “Só se poderia negar a validez à demonstração se se provasse, com absoluta validez, que o homem nada pode provar com absoluta validez” (SANTOS, Mário Ferreira dos. Filosofia Concreta. São Paulo: É Realizações, 2009, p. 61).

 
Bem vindo(a) ao Blog do prof. Donarte!!!

Aqui são publicados textos, imagens, ideias, pensamentos, conceitos, definições e opiniões de autoria do próprio professor, na área da Geografia, Filosofia, Educação e Ciências.

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    O AUTOR

    Nome:
    Donarte N. dos Santos Junior
    Residente em:
    Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
    Formação:
    - É Licenciado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
    - É Especialista no Ensino de Geografia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
    - É Mestre em Educação em Ciências e Matemática (PUCRS).
    - É Mestrando em Filosofia (PUCRS).
    Atuação Profissional:
    - Foi Técnico em Geoproce ssamento do L/li/liaboratório de Tratamento de Imagem e Geoprocessamento (LTIG) da PUCRS.
    - É Professor da Prefeitura Municipal de Porto ALegre.
    Título da primeira dissertação de mestrado:
    “Geografia do espaço percebido: uma educação subjetiva”, que alcançou grau máximo obtendo nota 10,0.

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