Por Donarte Nunes dos Santos Júnior
INTRODUÇÃO
O presente
texto, como o leitor poderá constatar, está dividido em dois aspectos: um deles
é universalista; o outro, exclusivista. Deste modo, a presente reflexão pretende, num primeiro momento,
ser universalista, porque ambiciona buscar
uma conceituação acerca de o que seja
EDC. Intenta, por outros termos, ser filosófica,
universal, ou seja, oferecer uma definição que possa ser aplicada a todo e qualquer EDC. Num segundo
momento, a presente reflexão pretende ser exclusivista,
específica, no sentido de buscar fazer um levantamento e informar a
experiência individual e particular de uma pessoa (o autor do texto) no uso de
seu EDC, ou seja: o item que foi usado,
como foi usado, o porquê de seu uso.
CONCEITO DE EDC
EDC, sigla
para as palavras inglesas Everyday Carry
(“transporte diário”), é um conceito.
Trata-se de um conceito, no mais
amplo sentido do termo, porque guarda, por trás de si, todo um complexo de idéias, todas elas, ou, a
maioria delas, relacionadas com o “estar preparado para situações adversas”. Em
razão de o fio condutor do conceito de
EDC estar relacionado ao estar preparado,
certas noções, tais como, sobrevivência,
utilidade, acessibilidade, confiabilidade,
essencialidade, previsibilidade, eficiência,
etc., estão sempre subjacentes.
EDC é, na
realidade, a concretização dos meios necessários para se obter a efetivação de uma ação que pode e/ ou deve ser tomada para que uma idéia seja, na prática, realizada pelo
homem no sentido de resolver, sanar ou remediar uma adversidade.
Por outros termos, o EDC se manifesta sob a forma de ferramentas que são necessárias para a execução de alguma tarefa. EDC
é, então, a conexão entre “o que tem
de ser feito” e ou com o “fazer”: trata-se dos meios necessários, os instrumentos, os utensílios, as peças que
irão tornar possível determinada ação que está mais ou menos conectada com a
idéia de resolverá uma necessidade, emergência e/ou adversidade.
É o tipo de
coisa por demais óbvia, tão óbvia que, muitas vezes, por fazer parte
da vida cotidiana do ser humano desde
os primórdios, acaba sendo menosprezado pelas pessoas em geral. Aliás, muitas
vezes o que é óbvio recebe esse
tratamento, a negligência. Justamente por ser evidente acaba sendo vulgarizado,
apesar de ser axiomático e incontestável. Em razão disso, nem
sempre a mais arguta das pessoas consegue resolver uma situação adversa,
justamente porque não estava preparada, e, portanto, não previu o que poderia
e/ ou deveria acontecer.
Isso
invariavelmente é assim porque o modo de vida urbano que é levado diariamente
pela imensa maioria dos habitantes das grandes capitais, faz com que eles se
desapercebam que as facilidades oferecidas hodiernamente podem, sem aviso
prévio, serem interrompidas a qualquer momento. Deste modo, é só nas situações
de privação que as pessoas se dão
conta de que precisam de ferramentas.
A carência de meios necessários a certas ações, invariavelmente, surpreende o
homem, deixando-o sem condições de agir: a falta
de luz, a falta de água e de
comunicação; nas ocasiões de desabamentos, de incêndios e de acidentes; nas
necessidades mais elementares, como abrir uma caixa, uma garrafa, uma lata; nas
emergências onde se é necessário cortar uma corda, quebrar um vidro, etc., é
que o homem percebe que é um animais muito pouco preparado fisicamente para
ações que requerem força, corte, perfuração, ajustes, quebras, dobraduras, etc.
– o ser humano não tem e que muitos outros animais possuem: garras afiadas e
dentes pontiagudos, por exemplo; temos pele, não couraças resistentes; não
suportamos, como outros seres vivos, certas temperaturas e privações. Em outras
palavras, o homem é pouco aparelhado para resolver adversidades, e, geralmente,
só se dá conta deste fato de obviedade patente
e indiscutível, quando está
diante dele, vislumbrando-se despreparado.
A constatação
acima faz com que algumas pessoas desejem estar preparadas para o enorme espetro de eventos possíveis e imagináveis
que as podem assaltá-las na vida diária. Tais pessoas, na imensa maioria das
vezes, não fazem essa preparação pensando somente em si mesmas, mas, também, nas
outras. A pessoa que passa a cultivar o conceito
de EDC é, no mais amplo sentido do termo, cidadã, pois, acaba despertando
para as potencialidades, necessidades, perigos e privações ante
os quais pode cair, e, diante disso, tenta não ser pega de surpresa; isso
pressupõe o outro, visto que ninguém
vive só, em virtude de o ser humano ser um ser
social por natureza. Então, na
prática, o EDC que serve para a pessoa que o porta pode também servir à
acompanhante.
Diante do que
foi visto até aqui, pode-se dizer que EDC é o conjunto de utilidades que uma pessoa carrega
todos os dias, e que podem ser úteis
e/ ou necessários para ela e para outrem.
O EDC também
está relacionado à idéia de sistema.
Trata-se, de certo modo, de um sistema
que procura cobrir uma série de necessidades básicas e de primeira grandeza
quando o assunto é a manutenção da integridade da vida humana.
Invariavelmente,
apesar de alguns autores fazerem distinções entre “kit’s EDC” e “kit’s de
sobrevivência”, todos eles são unânimes em dizer que o ideal seria que um sistema desse tipo fosse pensado no
sentido de cobrir as necessidades relativas a obtenção de fogo, água, navegação, orientação e sinalização,
abrigo e alimentos.
Assim, os sistemas EDC vão apresentar uma série de
ligeiras modificações, todas elas variando conforme a necessidade previamente
planejada.
Em razão
disso, existem EDC’s para matas e florestas, EDC’s urbanos, etc. A grande maioria deles trará itens, tais como:
- Preservativos para armazenamento de água
- Recipiente tipo cantil ou garrafa Pet
- 2 ou 3 formas diferentes para se fazer fogo (Isqueiro;
fósforos; pederneiras com carvão de tecido e/ou bolas de algodão; lentes de
aumento)
- Tiras de borracha de câmara de ar de pneu
- Um bom canivete e/ou faca
- Sacos plásticos de lixo resistentes e grandes (para se
fazer um abrigo impermeável pra chuva
ou coletar água)
- Velas em pedaços (para ajudar a acender fogo, ou iluminar)
- Agulhas /linha /alfinetes de segurança (Para se fazer
reparos em roupas e equipamentos; anzóis; suturas)
- 10 metros de cordame resistente, de nylon, tipo “Paracord”
(para se fazer abrigos, armadilhas, torniquetes, reparos e amarras em geral)
- Cobertor de alumínio de emergência (para aquecimento,
abrigo ou sinalização)
- Uma bússola (Dos tipos: Silva; De Visada; De Pulso ou
Botão)
- Um Apito (que soe bem alto)
- Um espelho sinalizador (pode se usar a superfície
reluzente de um C.D. ou o avesso de uma embalagem de salgadinhos ou Chips, ou
qualquer outra superfície brilhante)
- arame fino e maleável
EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL NO USO DO EDC
A
experiência individual do presente autor sobre EDC é bastante antiga. Data da
época de criança. Época em que as noções acerca do “estar preparado” não eram
tão amplamente divulgadas pela Mídia,
quando, tampouco, o termo EDC era conhecido e utilizado no Brasil. Ainda assim,
desde criança e desde jovem-adolescente, o presente autor sentia a necessidade
de carregar, diariamente, uma lâmina no bolso. Tal lâmina se manifestava sob a
forma de um canivete simples.
Um canivete é,
por assim dizer, uma das ferramentas mais versáteis e utilizáveis no dia-a-dia.
Seja para abrir uma caixa, passando por cortar uma corda, até chagar ao
descascar uma fruta, um canivete pode ter múltiplas utilidades.
Com
o passar dos anos e a conseqüente complexificação das atividades diárias, as
necessidades vão se apresentando e tornando mais complicadas e variadas. Assim,
o antigo canivete simples cedeu lugar ao de múltiplas utilidades. O presente
autor, por ocasião de um “amigo secreto” na empresa onde trabalhava, pediu um
“canivete suíço” de presente. Célebre entre os canivetes multifunção, o
“canivete suíço” que foi utilizado por décadas pelo presente autor foi o modelo
“camping”. Atualmente, porém, o modelo que está sendo utilizado é o
“swisschamp” Há décadas, presente autor constata a imensa utilidade de uma
ferramenta dessas no bolso.
Mais
recentemente, pesquisas na Internet levaram
o presente autor, já adulto e profissional formado, a (re)visitar as noções de estar preparado, bem como, a descoberta
do conceito de EDC, tema do
presente texto. Tal reencontro e upgrade de
noções relativas à utilidade diária
frente às adversidades, levaram o presente autor a montar o próprio sistema EDC. Inicialmente o EDC do
presente autor foi fortemente influenciado por praticantes do chamado bushcraft, tais como Giuliano Toniolo.
Assim, o
primeiro sistema EDC do presente autor foi distribuído para ser carregado
diariamente em duas latas de balas da
marca Altoids.
Num primeiro
momento, então, o kit EDC do presente autor continha os seguintes itens:
- corda
- isqueiro
envolto em fita tape ("silver tape")
- fio dental
- agulhas com
olha grande
- pinça
- lâmina de
barbear (Gillete)
- Serra para
metal
- band-aid's
- espelho
embrulhado em papel alumínio
- anti-ácido
("sal de fruta 'ENO'")
- lenços
umidecidos com álccol
- 1 pregos
- clips
- fósforos
- alfinetes
simples
- alfinetes
com cabeça tipo bola, para mural
- Fita adesiva
dupla-face ("segura tudo")
- fitilhos
(arames para fechar sacos e sacolas)
- vela pequena
- cola
"super bonder"
- 2 botões
pequenos
- cola epóxi
(dois pequenos pedaços de cada uma das misturas)
- preservativo
- linha de
pesca (linha de "nylon" fina)
- folha de
papel alumínio
- agulhas
presilhas do tipo "joaninhas"
- fita
isolante
- dinheiro
(uns 100 reais)
- lista de
telefones úteis e de emergência
- cotonete
Como se pode
ver, tratava-se de um kit muito volumoso, distribuído, como já foi dito, em
duas latas de balas Altoids.
Em razão
disso, e da constatação de que, na imensa maioria das vezes, muitos dos itens nunca eram usados, o
presente autor fez um enxugamento do kit, que passou a ser assim, numa lata de balas da marca Mentos:
- lâmina:
minichamp swiss army knife (Victorinox)
- pinça: no
minichamp swiss army knife (Victorinox)
- analgésicos:
dôrico e paracetamol (1 de cada)
- Serra para
metal
- band-aid's
- 1 prego
- clip de
papel
- alfinetes
com cabeça tipo bola, para mural
- fitilho
(arame para fechar sacos e sacolas)
- cola
"super bonder"
- pilhas (AAA
"palito")
- pen drive
(HP 8Gb (c/ softwares diversos)
- uma argola
tipo anel para chaveiro
O kit acima se
mostrou fantástico!!! Havia um problema, porém: a acessibilidade era prejudicada em virtude da lata escolhida, que
passou a ser a de balas da marca mentos, ter a abertura pouco ampla. Outro
constatação foi a de que de nada adianta o “minichamp” ficar dentro de uma lata
pouco prática em sua acessibilidade, pois, caso seja necessário seu uso – como
de fato ocorreu –, a tarefa de dar de mão nele se torna irritante.
Assim, o
presente autor modificou o kit novamente, escolhendo, por contêiner, os
seguintes “organizer’s”, encontrados numa loja do Shopping Iguatemi (Porto Alegra), chamada Multicoisas:
Os kits
contém:
Nécessaire
branca:
- preservativo
- luvas
descartáveis
- fio dental
- analgésicos:
“paracetamol”, “aspirina”, “dorflex”, “engov”
- anti-ácido:
“sonrisal”
Nécessaire preta:
- band-aid's
- 1 prego
- clip de
papel
- alfinetes
com cabeça tipo bola, para mural
- fitilho
(arame para fechar sacos e sacolas)
- cola
"super bonder"
- 2 pilhas
(AAA "palito")
- pen drive
(HP 8Gb (c/ softwares diversos)
- uma argola
tipo anilha para chaveiro
Uma nécessaire é colocada no bolso direito da calça e outra no bolso esquerdo - quase não faz volume.
Além das chaves:
- lâmina:
minichamp swiss army knife (Victorinox)
- pinça: no
minichamp swiss army knife (Victorinox)
No bolso:
REFERÊNCIAS
BOY, Cedar. Mini survival kit. Loose Arrows: A blog about
sharp things. Microbevel.blogspot.com.
2012. Fonte: Disponível em:
http://microbevel.blogspot.com.br/2012/06/mini-survival-kit.html.
Acesso em 20 mar. 2013.
DAN, Urbivalist. The Micro EDC. YouTube.com. 2012. Fonte: Disponível em: http://youtu.be/lmlGntbGP5U.
Acesso em 20 mar. 2013.
______. Have You Actually Used Your EDC?. YouTube.com. 2012. Fonte: Disponível
em: http://youtu.be/agpF56iIqTE. Acesso em 20 mar. 2013.
MIKEHAMMER1911'S. Pocket Survival Kit/PSK. YouTube.com. 2012. Fonte: Disponível
em: http://youtu.be/o5uOdMhl7MY. Acesso em 20 mar. 2013.
TONIOLO, Giuliano. Meu kit de sobrevivência diário (K.S.D.).
YouTube.com. 2010. Fonte: Disponível
em: http://youtu.be/sevx77uFpj4. Acesso em 20 mar. 2013.
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